Artigo
Vazas
Totais
LEI DAS VAZAS TOTAIS – Uma Ferramenta de Decisão Em
junho de 1969, Jean-René Vernes, de
Paris, publicou uma análise estatística na revista
Bridge
World,
sob o título "The Law of Total
Tricks". Em 1992 Larry Cohen publicou o livro "To
Bid or Not
to Bid", que
esclarece
sua experiência acumulada no uso desse guia estatístico para uso na tomada
de decisão em leilão competitivo em trunfos. O
que vem a ser a lei das vazas totais? É
uma constatação estatística de que em cada cruzeta
(N-S ou E-O)
o "fit" de trnfo mais longo de cada dupla está relacionado com a soma de vazas que cada
cruzeta, considerando a melhor defesa e o melhor carteio. Explique
melhor? Se
E-O tem um juntos um naipe nono (5-4 ou 6-3 etc)
e N-S tem juntos um naipe oitavo (4-4 ou 5-3 etc) então o número total de vazas
é 9+8=17, logo se E-O faz 9 vazas no nível 3 N-S carteando no nível 3 vai
cair uma. Mas
e a posição das honras e a distribuição dos
naipes? Isso
não importa, pois se um determinado Rei segundo está bem
colocado ou mal colocado para uma finesse simplesmente soma-se vaza de um
lado ou
do outro, porém o número de vazas totais permanece
inalterado. Da mesma forma,
se um naipe tem um Rei segundo num Ás terceiro, simplesmente soma um
corte pela defesa ou para o carteador, porém
não se altera a soma de vazas totais. Como
se usa esse princípio estatístico? Da
mesma forma que se usa a estatística dos pontos (A=4 K=3 Q=2
J=1) para avaliar uma mão poderemos avaliar o número de
vazas totais inferindo
o número de trunfos que temos e o número de trunfos que
tem o oponente. Assim
sendo se eles têm 9 trunfos em Espadas e nós temos 8
trunfos em Copas, o número
de vazas totais é 17. Portanto se achamos que vamos cumprir com
sucesso o
contrato de 4
podemos assumir que os oponentes
só conseguem fazer 7 vazas carteando em Espadas. Se eles
defendem temos uma
ferramenta estatística para optar entre dobrar ou tentar marcar 5
e
evidentemente se nós vamos fazer 11 vazas, eles vão fazer
somente 6 vazas, logo
4 downs, que
dobradas
é melhor que arriscar tentar fazer 11 vazas. Mas
que precisão temos nessa inferência estatística? Vernes
analisou 340 mãos de campeonatos
mundiais e notou que 1/3 delas obedeciam corretamente a lei das vazas
totais;
que 80% tinha variação de 1 vaza, proporcionando um
desvio médio de 0,93 de uma
vaza. Seu estudo mostrou que a lei requer correções de
uma vaza a mais em casos
de duplo fit e quando cada lado possui
todas as
honras maiores de seu naipe trunfo. Além
disso seu estudo estabeleceu que além da segurança em
pontos
que habitualmente usamos para determinar o nível do
leilão que podemos aspirar
num leilão competitivo onde os pontos de honra oscilam entre
20-20, 21-19, 22-18 ou mesmo 17-23, há um nível de segurança
proporcionado pela distribuição
dos trunfos, isto é, podemos competir com menos pontos, sem
muito risco
(ressalvado a vulnerabilidade), com 8 trunfos em nível 2, com 9
trunfos em
nível 3 e com 10 trunfos em nível 4. Vejamos
agora uns exemplos práticos comentados por Larry Cohen,
parceiro de Marty Bergen,
que introduziu alterações no sistema de leilão com
base nesse princípio exposto
da Lei da Vazas Totais. 1-
Em 1978, na Olimpíada de Duplas de New Orleans, Marcelo Castelo
Branco
tinha que decidir se dobrava 4
ou
marcava 4
na mão e leilão abaixo:
Marcelo
Castelo Branco marcou 4
que foram dobradas e que cairia
uma, mas o adversário fez um grave erro de ataque e ele ganhou o
contrato para
a sorte deles e do Brasil que passou a figurar como ganhador nas
Olimpíadas de
Duplas. As mãos eram:
O dobrador saiu de A
e depois jogou A
e Q,
Marcelo puxou Paus para o Ás da mão e cortou Copas no
morto. A seguir jogou Ouros
e baldou uma Copas, que foi cortada pelo dobrador. Agora o dobrador jogando Paus
quebra a comunicação da mão com o morto caso os trunfos sejam retirados, pois
sobrará uma Copas perdedora na mão do carteador, porém o dobrador jogou Copas
que foi cortada na mesa e Marcelo puxou trunfo para para retirar os trunfos de
Oeste e então voltar para mesa em Paus para baldar no Ouros firme sua Copas
perdedora ganhando assim 590
pontos. A
Pergunta agora é: - qual o raciocínio que deveria ser
feito, em
função da Lei das Vazas Totais, para evitar um
possível "overbid" de leilão
e portanto uma má negociação? A
resposta é que N-S e E-O provavelmente tem 8 trunfos cada, logo
há
16 vazas totais e se N-S fizer 10 vazas então E-O só faz
6!, ou seja, vai 4 downs, se N-S cair uma down, ou
seja fizer somente 9 vazas, então E-O só faz 7 vazas,
logo seria arriscar um
duvido 420 contra um certo 500! Esse que é o raciocínio
suporte para a decisão. Se
a inferência de número de trunfos estiver errada, ou seja,
se
N-S ou E-O tiver 9 trunfos de modo que o número total de vazas
seja 17, ainda
assim, se N-S fizer 10 vazas, E-O só fará 7 vazas, o que
reafirma ser mais
prudente e vantajoso optar pelo dobro do que tentar o game. Obs.
Com a saída de trunfo E-O vai 4 ou 5 downs
nesta mão. 2-
Em 1980 na Olimpíada
de Quadra de Valkenburg, Gabino
Cintra teve que decidir se ia a 5
ou se dobrava, pois era Vul
contra nVul. A mão e o
Leilão está abaixo:
Gabino decidiu marcar 5, provavelmente ao visualizar uma seca de Paus na mão de Marcelo teria achado que iria fazer o contrato, mas, embora com cartas abertas o jogo possa ser feito, ele caiu uma down. A mão completa foi:
Qual
o raciocínio de decisão baseado na Lei das Vazas
Totais? 3-
No Rio de Janeiro, em 1979, durante o Bermuda BOW, o
conhecido profissional Mike Passell do
time dos EUA
tinha que tomar uma decisão:
Sua
mão era bem forte para quem disse 2,
talvez
o melhor fosse dar um cue-bid de 2
antes,
mas o fato é que ele marcou 3
e os EUA foram 2 downs perdendo 100 pontos
ao invés de ganhar 100 pois 3
vai uma down. Esses 5 imps
foram fatais
para tirar o título de campeão mundial dos EUA nessa
ocasião. A
análise que Pessell deveria ter
feito
era que seu parceiro com seca de Paus ou naipe sexto de Copas teria provavelmente marcado 3,
logo sua dupla tem 8 trunfos e os
adversários têm
no máximo 8 trunfos, portanto há 16 vazas totais e se
eles fazem 9 vazas os
oponentes caem duas em 3.
Por outro lado, se eles fazem
só 8 vazas, pela Lei das Vazas Totais, os oponentes
também fazem 8 vazas, ou
seja, essa é uma clássica situação de quem
cartear no nível 3 irá cair. A mão
completa é:
Larry
Cohen coloca em seu livro "To Bid or Not to Bid" que há algumas máximas que
devem
ser obedecidas em leilão competitivo. Uma delas é NUNCA
SOBREFALE OS
ADVERSÁRIOS QUE FORAM A NÍVEL 3 com 16 vazas
totais e SEMPRE SOBREFALE HAVENDO 18 VAZAS TOTAIS. 4)
Num leilão competitivo Larry Cohen conta sua decisão:
Esse
dobro em princípio é uma indicação que se
aceita jogar em
Copas ou em Espadas e que a mão é boa e não tem
chicana em Ouros, pois nesse
caso ele tentaria marcar seu naipe rico indicando 6-4-x-x ou 5-4-4-0,
logo distribuição deve ser 4441. Por outro lado a
seca de
Ouros mostra que os adversários têm 9 trunfos enquanto que
Marty
Bergen - Larry Cohen devem ter 8 trunfos em Copas.
Isso dá um total de 17 vazas, portanto se 10 vazas forem feitas em Copas os
oponentes farão somente 7 vazas em Ouros, logo passar é a melhor decisão, pois
no mínimo eles irão cair duas, porém Cohen ignorou a Lei das Vazas Totais e
marcou 4.
Obs.
Pode-se argumentar que a marcação de 4
só perde
porque a distribuição das Copas está 4 a 1 e
porque a finesse de Espadas está
mal. No entanto, a ênfase é que isso não importa, e
este é o ponto importante da
Lei das Vazas Totais, pois se fosse o contrário se cai mais em 4! 5) Em 1979, no Rio de Janeiro, EUA versus Itália, no Bermuda BOWL, Vito Pittala tem que decidir
Vito
Pittala marcou 4
negligenciando a Lei das Vazas Totais, pois se seu lado tem 8 trunfos e
os
oponentes tem 9 trunfos, há 17 vazas e ganhar 4,
que são 10 vazas dá aos
oponentes somente 7 vazas, ou seja, 2 downs
em 3.
Se 4
for 1 down, 3
também cai 1 down!
Após
a saída de 7
Belladona
optou por firmar as Espadas antes de tirar os trunfos e acabou
recebendo um
corte de Paus caindo uma down. O fato
é que 3
Copas
vai 2 downs, ou seja 200 contra um duvidoso 130 em 4
Ouros!
6) Voltando
agora ao conceito de segurança em distribuição, podemos inferir que quando o
parceiro abre de 2 fraco, naipe sexto (7-10), com
8-12 pontos e duas cartas de apoio devemos passar pois temos aí somente 8
trunfos. Com 3 cartas de apoio devemos ir para o nível 3, pois temos aí 9
trunfos. Com 4 cartas de apoio devemos ir para nível 4, pois aí temos 10
trunfos. Dentro
desse mesmo conceito, como respondedor, com zero a 6
pontos e 5 cartas de apoio no naipe rico de abertura, devemos marcar 4
antevendo uma possível defesa num parcial ou game que porventura
os oponentes
tenham. É
justamente baseado nesses conceitos que o sistema 2/1
adota a convenção Bergen de
apoio em naipe rico, onde
há distinção entre 3 e 4 cartas de apoio. -
no caso de overcall o apoio em salto para
qualquer naipe
indica 4 trunfos e mão fraca (2 a 6 hcp), pois segue o
princípio de
que com 9 trunfos o
nível 3 é segurança. /
/ / Portanto
jogar 2/1 OKBridge com "Bergen raises",
significa
jogar usando os princípios da Lei das Vazas Totais, que
estabelece níveis de
segurança para 8, 9 e 10 trunfos. O
sucesso em 1992 de Larry Cohen no livro "To
Bid or
Not to Bid"
onde ele exemplifica o uso da Lei das Vazas Totais, deu ensejo a que
ele
escrevesse em 1994 o "Following the Law", onde ele acrescenta
informações posteriores
que ele recebeu.
Esta
tabela mostra uma simulação feita em computador para
1.000
mãos. Nela podemos inferir probabilidades de ocorrências
para determinadas
configurações de pares de trunfos. Por exemplo, para uma
situação em que ambas
cruzetas tem seu melhor naipe com 9 cartas, vemos no cruzamento da
linha do 9
com a coluna do 9, que há 130 situações em 1.000,
ou seja, 13% de probabilidade
de ocorrência. A situação mais provável
é a de 8 x 8, onde a probabilidade é de
25,2%. É aqui que ocorre frequentes situações de
competição onde a Lei é
violada, naquele princípio de segurança que diz para
não competir em nível 3
com 8 trunfos e sempre competir com 9 trunfos. Em
verdade devemos competir no nível 3 com 8 trunfos somente
quando os oponentes estão vencendo o leilão também
com 8 trunfos, ou seja,
vamos ao nível 3 para o sacrifício ou para
arrastá-los até lá. Vejamos mais um
exemplo:
Repetindo:
com 16 vazas totais em fits 8
e 8 só se vai para nível 3 se o naipe da dupla for de
hierarquia inferior, pois
se os oponentes forem também ao nível 3, serão
eles que irão cair. Outro
emprego desse conceito de nível de segurança ocorre
quando
abrimos de 1ST e o parceiro faz um Tranfers.
Independente de termos máximo, como abono quarto, podemos fazer
o Transfer em salto pois com 9 trunfos
estaremos negociando
bem no nível 3. No entanto, alguns preferem fazer o Transfer
em salto somente com o máximo da mão, mas jogando com
duplas fortes e
competitivas haverá sempre uma chance dos oponentes reabrirem o
Leilão no nível
2 alcançando um ótimo parcial até em nível
3 se a mão do Respondedor for
realmente de completo sign-off. Da
mesma forma se o parceiro abrir de 2 fraco indicando 6 cartas,
por exemplo, de 2,
com uma mão fraca do tipo: /
/
/ fim / / /
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