RESTRICTED
CHOISE (Escolha Restrita ou Liberdade de Escolha)
por Carlos Salgado Nunes (Carlão) Restricted Choise: a jogada de uma carta, que pode ter sido selecionada dentre cartas de valores equivalentes (em geral contíguas), aumenta a chance de que o jogador que serviu esta carta o fez devido estar restrito a esta opção. A regra da Escolha Restrita é uma regra que permite ao Carteador uma melhor linha de carteio com base na avaliação da probabilidade a posteriori, após a ocorrência de um evento significativo, evitando assim que sua decisão seja um simples palpite, aplicado para situações consideradas usualmente como duvidosas. Esse princípio
mostrado em 1930 no livro "LES IMPASSES AU BRIDGE" de Pierres
Bellanger, foi em 1940 matematicamente analisado por Émile Borel no livro
"Theorie Mathematique du Bridge", porém só ganhou mais consciência da
comunidade bridgista quando Alan Truscott o pôs em discussão no "Contract
Bridge Journal" e finalmente quando Terence Reese o unificou num capítulo
de seu livro "THE EXPERT GAME" em 1958 (que foi publicado nos EUA
sobre o título "Master Play"). Antes de formulamos um enunciado propriamente dito para aplicação do Restricted Choise vamos seguir os passos do professor Borel para reforçar matematicamente o conceito que ele encerra. SITUAÇÃO-1) Vamos supor que temos um naipe onde faltam QJ5432 e assumir que nenhum bridgista descarta uma Dama ou um Valete quando batemos o Às e o Rei a menos que ele esteja restrito a servir estas honras. A
probabilidade a priori da distribuição dessas 6 cartas entre E-O obedecem as
seguintes freqüências: Após
NORTE bater uma honra (Ás ou Rei) vamos supor que OESTE serve o 4 e
que ESTE serve o 2. Quais são agora as novas probabilidades das
distribuições desse naipe? A seguir
batemos a outra honra e o OESTE fornece o 5 do naipe enquanto que ESTE fornece
o Valete do naipe. Qual será agora a porcentagem das distribuições resultantes
que podem ser 2-0 ou 1-1? Analisando os percentuais a priori, de chance desses eventos, notamos que Jx tem 6,46% de chance e que QJx tem 7,10% de chance. Quais serão as probabilidades a posteriori (após ESTE tem servido o Valetes) para cada um dessas hipóteses? Borel nos ensina que no cálculo das probabilidades possíveis deve ser feita uma hipótese sobre o comportamento de ESTE, que foi o jogador que serviu o Valete: - Se ESTE
tivesse QJ na segunda vaza , uma primeira hipótese de comportamento seria dele
sempre jogar o primeiro Valete; Tanto na
hipótese 1 quanto na hipótese 2, a probabilidade que ele tenha Jx é de 52,38%.
Já na terceira hipótese, após a distribuição das cartas, a probabilidade a
priori composta, para que ESTE tenha iniciado com Jx é de: A
probabilidade a priori composta, de que ESTE tenha iniciado com QJx e tenha
servido o Valete na seguinte vasa é de: Aplicando agora a fórmula de Bayes temos que as probabilidades a posteriori calculadas após ESTE ter servido o Valete na hipótese terceira de seu comportamento é que: para
Jx é 6,4596 / (6,4596 + 3,5528) x 100 = 64,516% Surpreendentemente a terceira hipótese de comportamento, mostra que ESTE terá honra segunda praticamente 2 vezes em 3 situações analisadas. Conforme Borel, isso fica mais fácil de ser entendido se pintássemos a Dama e o Valete desse naipe de verde, de modo que as duas cartas verdes fossem superiores ao 10 e inferiores ao Rei, tornando-as indistinguíveis entre si. O baralho de 52 cartas teria agora duas verdes, portanto a probabilidade a priori para que ESTE tenha tido inicialmente duas cartas verdes e uma carta pequena é de 7,1056%, mas a probabilidade a priori para que ESTE inicialmente uma carta verde e uma carta pequena é de 12,9192% (a soma de Qx + Jx) e portanto a probabilidade a posteriori fica: Verde
+ pequena = [12,9192 / (12,9192 + 7,1056)] x 100 = 64 ,516%
SITUAÇÃO-2) Supondo agora que num determinado naipe E-O possua as seis
seguintes cartas QJ10432 e que ao batermos uma honra (A/K) OESTE jogue o 2 e
ESTE jogue o 10. Qual é agora a probabilidade da distribuição das 4 cartas
restantes? Considerando a probabilidade a priori para: 10 seco =
1,2112% ; J10 ou Q10 SECOS = 1,6149% ; DJ10 secos = 1,7764% a probabilidade a
priori composta para que ESTE tenha : Portanto após ESTE ter servido o 10, as probabilidades a posteriori serão calculadas, por Bayes, como se seguem: para 10 [ 1,2112 /(1,2112+1,6149+0,8075+0,5921) ] x 100 = 28,26% O quadro QJ10 a seguir é o sumário das probabilidades a posteriori calculadas para a queda do 10, a queda do Valete e a queda da Dama, dentro da hipótese formulada para as cartas QJ10432.
Desse exemplo podemos tirar as seguintes
conclusões:
SITUAÇÃO-3) Um caso bem prático e clássico onde podemos analisar o
princípio da escolha restrita ocorre na seguinte configuração: Será portanto entre estas duas opções que SUL, o Carteador, terá que fazer a decisão final. Ele já sabe que ESTE tinha o Rei, logo SUL pode excluir todas as configurações na qual OESTE não tem o Rei, porém ele ficará ainda num impasse na sua decisão. Será que existe outra informação para SUL considerar e poder usar como decisão probabilística favorável? A resposta é sim, SUL deve considerar que é ESTE ganhou a vaza da Dama com o Rei e se ele tivesse o K10 ele estaria restrito a ganhar de Rei pois senão NORTE faria a Dama. No entanto, se ESTE tivesse o AK ele teria escolhido entre ganhar de Rei ou de Ás. De fato podemos assumir que 50% das vezes ele irá ganhar de Rei e 50% das vezes ele irá ganhar de Ás, quando possuir o AK, pois esta é a sua melhor estratégia de defesa. Partindo dessa hipótese, se SUL tivesse que jogar 200 vezes nessa mesma configuração de cartas teríamos que em 100 mãos que ESTE tivesse K10 ele faria a vaza de Rei e em 100 mãos que ele tivesse AK ele faria o Rei, provavelmente, em 50 vezes e faria a vaza com o Ás nas outras 50 vezes. Fica fácil concluir daí que jogar o Valete é superior a jogar o 9 pois comparando a hipótese que em 100 mãos com K10 ele ganha de Rei e em 100 mãos com AK ele ganha de Rei somente 50 vezes, temos que se ele ganhou de Rei, é mais provável, com a chance na razão de 2 a 1, que ele tenha ganho possuindo K10 e portanto devemos agora jogar o Valete. Outro
modo de fazer o mesmo raciocínio está em considerar o Ás e o Rei como cartas
verdes, indistinguíveis entre si, o que implica dizer que no baralho existem
duas configurações onde ESTE poderia ter uma honra verde e somente uma
configuração onde ESTE poderia ter as duas honras verdes. Assim sendo, a jogada
de Valete, após ESTE ter feito a vaza da Dama com uma honra verde, é favorável
numa relação de 2 paras 1 para se colocar o Valete. Outras situações seriam: a)
AJ10987 – 432 após a finesse de Valete ter perdido para uma honra de ESTE, nova
finesse deve ser feita, pois a distribuição 3 a 1 fica o dobro mais provável
considerando que se ESTE tivesse as duas honras, 50% das vezes faria o Rei e
50% das vezes faria a Dama: Logo as
probabilidades a posteriori, após o evento de ESTE fazer uma honra, ficam: Porém isso não se aplica quando a mão for AQ10765 - 432 pois aqui, a Dama perde do Rei, a probabilidade de 2 a 2 é superior a 3 a 1 pois não podemos aplicar o raciocínio ou regra da Liberdade de Escolha, visto que Rei e Valete não são cartas contíguas. Logo, após a Dama perder do Rei devemos bater o Ás. A jogada de finesse inicial de 10 não se justifica em termos de probabilidade, a menos que houvesse uma informação de leilão que mostrasse essa justificativa. b) Para fazer uma vaza na configuração J94-Q32 o correto é jogar pequena para Dama, pois AK pode estar junto atrás da Dama, e se esta perder para uma honra fazer finesse de 9. O raciocínio aplicado no exemplo QJ9-xxx pode ser estendido para esta situação. c) Para fazer uma vaza na configuração NORTE K109 – SUL 432 jogamos pequena para o 10 de NORTE e se ESTE ganhar com uma honra (Q ou J), devemos fazer o raciocínio da Liberdade de Escolha que mostra ser menos provável ESTE ter as duas honras (Q e J) contíguas, portanto ao jogar pequena para K9 de NORTE, caso OESTE sirva pequena, devemos passar o 9 e não o Rei. Essa jogada não é uma questão de palpite mas sim uma aplicação da regra do Restricted Choise. d) Na configuração K109876 – A32 após SUL bater o Ás e cair uma honra (Q ou J) em ESTE, a melhor linha de carteio é fazer a finesse de 10 e não querer jogar por QJ segundo. A queda de uma honra em ESTE mostra uma relação de 2 a 1 a favor de honra terceira em OESTE! e) Contra-Exemplo. Querendo fazer 4 vazas na configuração A2 – K9865 após NORTE bater o Ás, mesmo que caia 10 (ou Valete) em OESTE devemos bater o Rei, pois além de existir a hipótese adicional de J10 ou Q10 em OESTE para justificar essa queda de uma carta superior. Portanto, nesse caso, devemos jogar o naipe por 3 a 3 ou por 4 a 2 e não por 5 a 1 que não permite que se faça 4 vazas no naipe. Esta não é uma aplicação do Restricted Choise. f) Contra-Exemplo. Igualmente com A2 – K9865 após NORTE bater o Ás e cair a Dama de OESTE, não devemos fazer a finesse, vide quadro QJ10 anterior, pois embora a Dama tenha 46% de chance de ser seca, a soma da hipóteses de QJ (31%) com QJ10 (23%) resulta em 54%, fora o fato que jogar por 5 a 1 não nos interessa para fazer 4 vazas e se a QJ nasceram segunda, não iremos conseguir fazer 4 vazas a não ser batendo o Rei na segunda vaza no naipe. g) Na configuração AKQ9 – 432 após NORTE bater o Ás e ambos oponentes servirem pequena, se NORTE bater o Rei e ESTE servir o 10 ou o Valete, devemos entrar em SUL para fazer finesse de 9, pois a hipótese de que ESTE tenha as duas cartas contíguas, no caso J10x, é inferior numa relação de 2 para 1 que ele tenha Jx ou 10x (verdade é 20 contra 11 ajustando-se a terceira carta servida por OESTE através do raciocínio da técnica da análise de Lugares Vagos). h) Na configuração AKQ8 – 432, após NORTE bater Ás e Rei, ESTE serve 2 cartas chaves dentre J/10/9. Nesse caso devemos fazer a finesse de 8 mais depressa ainda, pois a hipótese de J109 é desfavorável numa relação de 3 a 1 em favor de naipe 4 a 2 (na verdade a relação é 30 para 11 no ajuste da análise de Lugares Vagos após OESTE servir a terceira carta). i) Na
configuração 2 - Querendo fazer 5 vazas na configuração " 2 -
QJ87654" NORTE joga pequena para a Dama de SUL enquanto que ESTE serve o 9
(ou o 10) e OESTE faz uma honra superior (A ou K). j)
Supondo que temos um naipe com 10 cartas faltando KQ2 e que após bater o Ás
ESTE serve a Dama e OESTE o 2. Baseado no princípio que se ESTE tivesse KQ ele
poderia ter escolhido entre jogar o Rei ou a Dama então podemos supor que OESTE
tem mais probabilidade de possuir o Rei que falta (Honra com o 2 é mais
provável), logo faça seu carteio e contagem da mão adversária assumindo
isso. l) Você tem a configuração A1098 – 432 e quer fazer 2 vazas no naipe, mas não tem mão no morto a não ser no Ás desse naipe, logo você se prepara para jogar pelo naipe 3 a 3, porém após você fiar duas vezes, nota que ESTE fez as duas vazas com duas das três honras (K/Q/V) que faltam, portanto você chegou na situação que a regra do Restricted Choise determina que a relação de ESTE ter a terceira honra faltante, contra OESTE ter naipe quarto é de 3 a 1 desfavorável, logo você deve jogar pela finesse e não mais pela divisão 3 a 3 do naipe. m) Na
configuração Q32 – K98765 SUL joga o 5 para a Dama de NORTE e OESTE serve o
Valete (ou o 10), SUL põe a Dama e ESTE faz o Ás. Depois do carteador pegar a
mão e entrar em NORTE ele joga o 2 e ESTE serve o 4. Pergunta, o que SUL deve
fazer, entrar de K ou fazer a finesse?
A
pergunta final que fazemos é: em quais dessas situações é válido o raciocínio
do Restricted Choise após SUL bater o Rei e OESTE servir uma carta pequena e
ESTE servir uma Honra (Dama ou Valete)? Logo as
probabilidades a posteriori, após o evento de ESTE servir uma honra, ficam: Ou seja,
no caso em que falta Q e J, após a batida de um Rei se a mão mostrasse que o
oponente oposto ao que serviu a honra, tem um naipe longo, por exemplo
sexto, de modo que a técnica de Lugares Vagos mostrasse que ele tem seis cartas
em outro naipe mais duas desse, sobrando só 5 lugares vagos para caber a honra
procurada, enquanto que o outro lado que serviu a honra tem 10 lugares vagos
para ter a honra procurada. A técnica de Lugares Vagos mostra uma relação de 2
a 1 em favor de se jogar por duas honras juntas, enquanto que o princípio do
Restricted Choise mostra uma relação de 2 a 1 em favor de se fazer a finesse.
Nesse caso, fazer a finesse ou bater por cima é mais uma questão de palpite,
pois as técnicas de ajuda conflitam em nos ajudar na decisão de uma linha de
carteio ou
outra linha de carteio. Use nesse caso seu "Feeling"!
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