Lei
da Simetria, isso existe?
Contribuição de
RICARDO MAISSA
Quanto um Declarante tem
um naipe de 9 cartas faltando a Dama e mais 3 cartas pequenas e nenhum oponente
se manisfestou no Leilão, a maneira tecnicamente
melhor de se jogar esse naipe é bater o Ás e depois ficar entre bater o Rei ou
fazer uma finesse. Essa decisão deve ser feita com base na aplicação matemática do cálculo das probabilidades,
além de ser ditada também por jogadas de segurança ou pelas exigências do jogo.
No
entanto, surge a questão: pode o cálculo das probabilidades ser alterado pela “Lei da
Simetria”?
Mas o que é a Lei da
Simetria?
Todos aqueles que jogaram
um número elevado de mãos já devem ter notado a estranha frequência com a
qual se repetem algumas situações anormais como à divisão irregular dos quatro naipes das treze
cartas de um jogador com frequência corresponde uma distribuição irregular
semelhante na mão de outro jogador.
A uma chicana (“void”) corresponde
outra chicana, a uma carta seca corresponde outra carta seca.
Estas situações são na
maioria das vezes consideradas com uma simples coincidência, sem que lhes seja
dada uma devida importância e sem que sejam consideradas como elementos válidos
de referência.
Acredito que o assunto merece ser
colocado em destaque porque, ainda que de modo não claro matematicamente, o
mesmo transcende as fronteiras dos eventos fortuitos para se enquadrar num esquema
que pode ter sua razão de ser na mecânica restritiva que regula a distribuição
das cartas de uma mão de bridge.
A “Lei da simetria”
baseia-se nestas premissas, e mais que uma verdadeira lei pode ser considerada
como uma diretriz para se avaliar a provável repartição
das outras mãos quando uma, ou melhor, duas forem conhecidas.
Obviamente a “Lei da
simetria” é apenas uma das ferramentas que permitem acrescentar elementos
adicionais as probabilidade para a tomada de decisão, além daquelas mais
importantes obtidos pelas
informações provenientes do Leilão e pela contagem das cartas dos naipes.
A “Lei da simetria”
pode ser sintetizada por duas afirmações:
a)
A uma mão balanceada corresponde geralmente outra mão balanceada, e a
uma mão desbalanceada corresponde geralmente outra mão com o mesmo grau de
desbalanceamento.
b)
Uma mão balanceada corresponde geralmente a um naipe dividido com o
mesmo equilíbrio entre os quatro jogadores, ao passo que uma mão desbalanceada
corresponde a um naipe distribuído de modo irregular entre os jogadores (este
naipe está geralmente situado na mão do jogador que possui o naipe mais
comprido).
Segundo
essa Lei, existe uma correlação entre os tipos de mão e as distribuições
dos naipes, de modo que se um jogador tiver uma mão 5-4-2-2 é bem provável
que outro jogador tenha uma mão idêntica, ou que um dos quatro naipes tenha a
distribuição 5-4-2-2.
Para
melhor ilustrar o conceito, para cada mão é possível montar uma tabela e
observar a perfeita correspondência entre a divisão das cartas de cada naipe
pelos jogadores da mesa e a distribuição que cada jogador possui.
Por
exemplo, a mão a seguir:
KQx
AKJxx
xx
Vxx
Ax
=======
xxx
Qxx
= N = x
Axxxxx
= O E =
Jx
xx
= S =
AQxxxxx
=======
Jxxxx
xxxx
KQx
K
Pode ser representada assim:
|
tipos de mão |
|
NORTE |
SUL
|
OESTE |
ESTE |
Distribuição
dos
naipes |
|
3 |
1 |
2 |
7 |
|
2 |
3 |
6 |
2 |
|
5 |
4 |
3 |
1 |
|
3 |
5 |
2 |
3 |
Desta tabela vê-se
claramente que:
- a distribuição 5-3-3-2 do naipe de
é a mesma que a mão de NORTE;
- a distribuição 5-4-3-1 do naipe de
é a mesma da mão de SUL;
- a distribuição 6-3-2-2 do naipe de
é a mesma da mão de OESTE;
- a distribuição 7-3-2-1 do naipe de
é a mesma da mão ESTE.
É também fácil ver que o sucesso em
cumprir um contrato de 4
ou 4 leiloado por N-S
nessa mão depende essencialmente de como será jogado o naipe de
Copas.
Se for seguindo a regra geral, segundo a qual com 9 cartas (ex. AKJxx - xxxx),
após bater o Ás, a chance da Dama estar seca é de 52,12%, e que portanto deve-se bater
o Rei ao invés de se fazer uma finesse de Dama, o contrato não será cumprido.
Por outro lado, se for seguida a “Lei da simetria”, que afirma que diante do
fato que há uma carta
seca de Paus provavelmente correspondente carta seca num outro naipe na mão de um dos
oponentes (obviamente Copas), deve-se fazer a finesse.
Evidentemente para abalizar a Lei da Simetria precisamos fazer uma simulação do problema. Devemos gerar um
número muito grande (+ de 100 mil) de mãos que atendam as condições de se ter uma
seca de referência e um naipe nono faltando Qxxx, tal como na situação
exemplificada, e aí comparar o número de sucessos versus insucessos
desse antigo princípio empregado por alguns experts, pois até onde
sabemos a probabilidade da distribuição dos resíduos das cartas de um naipe na
não dos oponentes não sofre influência de como está a distribuição das
cartas desse naipe entre a mão e o morto, ou seja, AKJxx - xxxx, ou AKJxxx -
xxx, ou AKJxxxx - xx, após a batida do Ás a chance da Dama ter ficado seca
continua sendo 52,12%.
No entanto, devemos referenciar grandes personalidades do Bridge como Ely
Culbertson (1891-1955), a quem se atribui a teoria da Lei da Simetria, que
considerava que uma mão 5-4-3-1 teria mais frequentemente presente uma
distribuição 5-4-3-1 no seu naipe quinto do que as porcentagens
afirmam.
Além de Ely Culbertson defender a importância dess simetria no anexo do seu
livro da década de 30, também Easley
R. Blackwood (1903-1992), defendia essa teoria e sugeria até uma decisão
segundo a seguinte regra:
- Bater o Ás e Rei se no naipe mais curto entre o Declarante e o Morto a
divisão for 2 a 2 para 4 cartas ou for 3 a 2 para 5 cartas;
- Fazer a finesse se no naipe mais curto entre o Declarante e o Morto a divisão for 3
a 1 para 4 cartas ou for 4 a 1 (ou 5 a 0) para 5 cartas.
Assim, por exemplo, na distribuição
da mão mostrada anteriormente, após SUL bater o Ás e tiver que decidir entre bater o
Rei ou fazer a finesse à Dama, poderá apoiar sua decisão
olhando o naipe mais curto, que no caso é Paus (Jxx - K), e como ele está
dividido 3 a 1 e não 2 a 2, SUL deve fazer a finesse.
Finalmente, lembre-se que em Leilões
onde os oponentes nunca falam, mesmo com inferioridade de valores em cartas
altas, é geralmente porque eles devem ter mãos
balanceadas, pois com chicanas e secas, logo com algum naipe mais
longo, esse pessoal sempre arruma uma voz de
Leilão para nos atrapalhar.
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