Durante o campeonato sul-americano de 2003 ocorreu uma
interessante mão que abaixo reproduzimos:
A dupla uruguaia Scavuzzo e Carve, que estava perdendo 51 IMPs
nesse momento, marcaram 7 em duas rodadas de
leilão. Carve tinha 5 cartas de Espadas e seca de Copas e isso faz o contrato
ser batido com trunfos 2-2 tal como estavam. Evidentemente, o contrato foi
marcado mais no desespero do que na comunicação completa entre os parceiros da dupla,
pois não basta saber se o parceiro tem duas honras altas de trunfo para se
marcar esse Grand Slam. Uma informação importante é descobrir o que ESTE tem
de Copas. O ideal seria o Rei segundo, mas isso também é difícil de ser
descoberto pois no desenrolar do leilão um "cue=bid" de apoio
em Copas pode ser feito inclusive com a Dama segunda. A marcação da seca de
Copas por ESTE é algo não recomendado, pois pode gerar ambigüidade entre
distinguir honra de apoio e carta seca. Os italianos,
mestres do "cue-bid", não abonavam com seca.
No entanto, rasgando esse preciosismo, caso a dupla aceite o "cue-bid" com seca
a probabilidade, à priori, de sucesso depende:
Copas 3 a 2 => 67,8%
trunfo () 2 a 2 => 40,7%
trunfo () 3 a 1 => 49,7%
Ou seja, assumindo os casos favoráveis de trunfos 2 a 2 e Copas 3 a 2 a chance
de sucesso certo é:
sucesso: 0,687 x 0,407 = 0,280 ou 28%
A chance de sucesso com Espadas 3 a 1, mas quem tiver as Espadas tem as 3 cartas de
Copas é:
sucesso: 0,687 x (0,407 + 0.249) = 0,450 ou 48%.
Conclusão, quem marca um Grand Slam com menos de 50% de chance de sucesso não merece ser campeão sul-americano,
além do que no leilão da dupla uruguaia não se sabia se havia carta seca de
Copas e 5 cartas de Espadas, pois com duas Copas brancas a chance de sucesso é
zero e com fit 4 a 4 de Espadas a chance de sucesso para Copas e Espadas 3 a 2
considerando que quem tiver 3 cartas de Copas tem também que ter 3 cartas de Espadas é:
sucesso: 0,687 x 0,344 = 0,236 ou 23,6%
Na outra mesa a dupla brasileira Dib e Vitamina buscaram um leilão mais
científico, mas houve um problema de distração de Vitamina, que não interessa
aqui, e terminaram em 5.
O problema que queremos por em discussão aqui é o conceito de "cue-bid de apoio"
versus a marcação de seca. O leilão de Dib e Vitamina teve uma marcação
questionável teoricamente:
DIB
oponente Vitamina oponente
1
passo 1ST*
passo * indica 5 ou + cartas de
Espadas
4**
dobro 4
? passo
** splinter (seca ou corte de Ouros)
4ST*** passo
5
passo *** RKC pergunta de Ás
5****
passo passo
passo **** Pergunta Dama de Trunfo ()
Nota: Vitamina não podia passar em 4 dobrado
pois isso mostraria segundo controle em Ouros, enquanto que o redobre mostraria o
primeiro controle. Portanto o nosso querido Vitamina, que em 2003 anda ganhando
tudo, deveria ter marcado 4!
Porém durante o leilão Vitamina marcou a seca de Copas e isso permitiria que Dib fosse
ao Grand Slam de uma forma mais científica caso tivesse entendido que o parceiro
tinha seca de Copas. No entanto, surge a questão crucial do "cue-bid de apoio",
isto é, pode-se num leilão, após um naipe ficar combinado,
abonar o outro naipe do parceiro com carta seca, ou sempre isso deve
ser feito com honra alta (A/K/Q) seca, ou segunda, ou terceira?
Em nossa opinião não pode haver situações em que se abona com seca e em que se
abona com honra segunda. Na verdade o apoio com honra no naipe do parceiro é
muito mais importante ser dado do que com seca, pois a honra permite fechar o naipe e dar garantia de baldas em
naipe lateral onde se tem o primeiro (ou segundo) controle e não se pode dar vazas. Por
exemplo:
Abridor Respondedor Leilão
Abridor Respondedor
Kxxx
AQxxx
1
1ST <= 5 ou + cartas de Espadas
AKJxxx
Qx
4
4 <= cue-bid de apoio
Axx
Jxxx
5ST 7
<= após o Grand-Slam-Forcing
- Jx
passo
Com esse exemplo queremos evidenciar que se 4
puder ser marcado com seca o Abridor não terá jamais segurança se o naipe de
Copas irá fechar, ou seja, é fundamental para o sucesso de uma boa parceria resolver essa ambigüidade entre poder
apoiar o naipe do parceiro com seca ou com honra alta.
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