Parte 2 - Dinâmica
das Probabilidades no Bridge Estamos falando do comportamento, da psicologia, que iremos inferir a um jogador para justificar seus possíveis procedimentos, porém para entendermos o que foi dito anteriormente vamos meditar sobre a seguinte situação narrada por Borel, que embora seja um pouco maçante, é muito importante para conceituarmos de vez o que foi dito. Paulo retira de um baralho, 4 cartas de Espadas, 3 cartas de Paus e uma carta de Ouros. A seguir ele embaralha essas 8 cartas e as distribui em dois maços de 4 cartas. Paulo toma um maço de 4 cartas e anuncia que o maço que ele escolheu possui 3 cartas pretas e a seguir nos pergunta: - Onde está a carta de Ouros, nesse maço ou no outro? Evidentemente Paulo irá nos detalhar que as três cartas pretas são de Espadas, ou de Paus, ou ainda duas de Espadas e uma de Paus ou uma de Espadas e duas de Paus, porém está claro que Paulo jamais incluirá a carta de Ouros no seu anúncio, pois é precisamente isto que nos cabe descobrir. Supondo que Paulo diga que as 3 cartas pretas são de Espadas e que a seguir nos pergunte novamente qual o maço que tem a carta vermelha. Nesse caso
podemos fazer o seguinte cálculo e análise : Existem C8,4 = 70
combinações possíveis de se formar maços de 4 cartas de um
conjunto de 8 cartas. As configurações possíveis são:
************************************************** Façamos pois uma análise da situação: Quando o maço escolhido por Paulo possuir 4 cartas de Espadas ou 3 cartas de Espadas e 1 de Ouros ele estará restrito a anunciar 3, porém se o maço escolhido por Paulo possuir 4 cartas pretas, compreendida de Espadas e Paus, surge a pergunta : Baseado em que lei ele eliminará a quarta carta de seu anúncio? É justamente
isso que devemos saber (sua psicologia) para poder estabelecer a
probabilidade a posteriori de modo a associá-la ao evento
observado (comportamento de Paulo para escolher a quarta carta não
divulgada). Façamos 3 hipóteses para o seu comportamento : Existe somente
uma combinação que dará o conjunto (a) para Paulo, logo se ele
recebeu o conjunto (a) é uma certeza (probabilidade = 1) que ele
anunciará 3,
pois sua escolha é restrita. Desse modo, a probabilidade
composta, calculada antes do anúncio de Paulo, para que ele possua
o conjunto (a) será igual a Considerando que
existem 12 combinações que darão o conjunto (b) para Paulo,
usando a hipótese bem razoável, formulada por Bayes, que em 50%
das vezes ele eliminará Paus e em 50% das vezes ele eliminará
Espadas, então 50% das vezes ele dirá 2
e 1
e 50% ele dirá 3
(pois aqui ele tem a liberdade de escolha ), logo a
probabilidade composta, calculada antes do anúncio de Paulo, para
que ele possua a combinação (b) é igual a: Finalmente
existem 4 combinações que darão o conjunto (c) a Paulo e se Paulo
receber o conjunto (c), será uma certeza que ele anunciará 3ª,
pois ele não pode revelar a carta de Ouros, ele está restrito
a anunciar 3ª,
logo a probabilidade composta, calculada antes do anúncio de Paulo,
para que ele possua o conjunto (c) é igual a Aplicando agora
a fórmula de Bayes, que impõe que se trabalhe com as
probabilidades que vão entrar em jogo, ou seja, deletando-se do
conjunto universo as configurações que sabemos não ser possíveis
temos o ajuste necessário, e as probabilidades à posteriores,
calculadas após o anúncio de Paus, para que a quarta carta seja: - Se ele tiver o
conjunto (a), será uma certeza que ele anunciará: 3
e a probabilidade composta calculada antes do anúncio de Paulo,
para que ele receba o conjunto (a) e anuncie 3
será de: - Se ele tiver o
conjunto (b), ele anunciará uma vez dentre quatro: 3
e anunciará três vezes dentre quatro que ele terá 2
+ 1.
A probabilidade composta, calculada antes do anúncio de Paulo, para
que ele revele o conjunto (b) e anuncie 3
será de: - Finalmente se
ele tiver o conjunto (c) será uma certeza que ele anunciará 3,
e a probabilidade composta calculada antes do anúncio de Paulo para
que ele receba o conjunto (c) e anuncie 3
será de: Portanto, nesta
hipótese psicológica para Paulo, as probabilidades a posteriori,
calculadas após o anúncio de Paulo, para que a sua quarta carta
seja: Nesse caso, para o conjunto (a) a probabilidade continua sendo 1/70 x 1; para o conjunto (b) a probabilidade fica sendo 12/70 x 1; para o conjunto (c) continua sendo 4/70 x 1. Considerando que
Paulo anunciou 3ª,
então as probabilidades à posterior calculadas após o anúncio de
Paulo serão (eliminando-se o denominador 70): O Quadro seguinte resume as probabilidades calculadas após o anúncio de Paulo, conforme seja a hipótese de seu comportamento e o leitor poderá calmamente verificar a exatidão das mesmas. =================================================! Transpondo essas considerações anteriores para o domínio do Bridge, podemos perceber com mais clareza que o cálculo da probabilidade a posteriori passa por uma inferência sobre o comportamento e a psicológica do jogador oponente, portanto não existe uma lei geral a ser fixada e por todos seguida. A "lei" dos 50% das vezes o jogador faz isso e 50% das vezes faz aquilo, é um simples bom senso, que é usado como um postulado por Bayes para esse tipo de situação, que usamos no emprego de situações conhecidas como "Restricted Choise". Por outro lado, no Bridge o anúncio de Paulo equivale também a uma licitação de leilão, a numa saída de Rei, que em geral, implica numa Dama e Valete (ou 10); numa saída de Dama, que em geral, implicada, em ter o Valete e 10 (ou nove); na queda de um Rei após a batida de um Ás e finalmente na concentração de honras (A/K/Q) com um jogador determinada por sua abertura ou um dobre punitivo num contrato, etc. Como aplicação do que foi visto vamos idealizar uma hipótese para o comportamento de uma saída no jogo de Bridge: Você está em Sul carteando um contrato de naipe de 4ª, após um leilão direto 1 => 4, e receber uma saída de Ouros que vem a ser um naipe nono lateral onde você tem todas as cartas altas. Após Este servir Ouros você se pergunta, qual é a melhor inferência a ser feita na distribuição dos Ouros após a saída de OESTE. Sabemos que as probabilidades a priori dos resíduos quando faltam 4 cartas num naipe é que Oeste terá uma carta em 24,9%, terá duas cartas em 40,7% e terá três cartas em 24,9%. Assumindo agora um modelo probabilístico para a psicologia desta saída de OESTE, vamos postular que tendo seca de Ouros ele sairá 2 vezes em 3; tendo dubleton ele sairá 1 vez em 4; tendo tripleton ele sairá 1 vez em 20. Aplicando agora
a fórmula de Bayes temos: Portanto a
probabilidade a posteriori para que seja saída de: Assim sendo, se
o Carteador tiver que inferir contagem de mão e compor
probabilidades para determinar sua melhor linha de carteio, após
essa saída de Ouros, a probabilidade a posteriori de ser carta
seca em Oeste aumentou significativamente.
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